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sábado, junho 21, 2003

Crise existencial 


Mais cedo ou mais tarde teria de acontecer. No entanto, não aconteceu mais cedo nem mais tarde: aconteceu agora. Este blogue está a atravessar uma crise existencial. Coisas da vida, ao que parece.

O Metrobloguitano ainda mal nasceu e já tem um problema de definição, motivo que o impede de se registar no Blogo, porque sente (leia-se: a sua autora sente) que não encaixa em qualquer das categorias. Ora, isto traz consequências avassaladoras, pois, se este blogue não estiver listado em lado algum, ninguém vai saber da sua existência, logo, não terá leitores e falta de leitores, como se compreende, dá cabo do ego de qualquer blogue (leia-se: do ego do autor do blogue em causa, neste caso, o meu).

Fazer-se anunciar este blogue nas caixas de e-mail de outros blogues talvez fosse uma boa opção. Mas aqui surge um problema: o funcionamento da minha amígdala - vulgo, a minha timidez. E se eles não gostassem de este blogue? E se eu chegasse à conclusão de que, afinal, não gosto dos blogues deles? E se eu começar a escrever coisas que não interessem a quem quer que seja? Não, é melhor deixar-me ficar quietinha.

Talvez ainda vá parar à categoria “Dia-a-dia”, porque a verdade é que este blogue será o que se for vendo – um dia depois do outro, ou dia sim dia não depois do outro… Enfim, depois se verá.

Conversa sozinha da rapariga que deixa passar os metros 


Quinze minutos antes das seis da tarde, costumo estar ali,
em Entrecampos, a deixar passar os metros – passam
pessoas também (já se sabe), olham-me, algumas tropeçam
(encolho as pernas). Há vezes em que anda por ali um
homem mal arranjado, a barba por fazer, uma estranha
maneira de andar (uma dança só dele, imagino), fala sozinho,
não sei se vive na rua ou se é apenas louco (ainda menos
sei se a loucura pode ser apenas), revolve os caixotes do
lixo com as mãos sujas, à procura de papéis feitos pedaços
e atirados aos carris quando o comboio se aproxima. Há
nele qualquer coisa que assusta, mas fico a ver, sigo-lhe
os gestos e o arrepio é o mesmo de quando sigo os versos
desconhecidos do poema (assustam-me os poetas, também).
Quinze minutos antes das seis da tarde, costumo estar ali,
a deixar passar os metros e a observar esse homem (quando
ele por lá passa) - e há pessoas que me olham, algumas
tropeçam (encolho as pernas). Se me trouxeres um ramo
de malmequeres e disseres a senha certa, saberei quem és
e ao que vens - espero-te para juntos conhecermos o
som das pétalas pequenas e brancas esmagadas nos carris.

Rute Mota

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