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domingo, julho 06, 2003

Naquela estação 


Você entrou no trem
E eu na estação vendo o céu fugir
Também não dava mais para tentar
Lhe convencer a não partir
E agora tudo bem
Você partiu para ver outras paisagens
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação

Você entrou no trem
E eu na estação vendo o céu fugir
Também não dava mais para tentar
Lhe convencer a não partir
E agora tudo bem
Você partiu para ver outras paisagens
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação

E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação


Adriana Cacanhoto

sábado, julho 05, 2003

Folheto publicitário distribuído à entrada do Metrobloguitano 


Tranquilizem-se os transeuntes que não se pretende publicitar os serviços de algum grande mestre capaz de «aproximar e afastar pessoas amadas» mas tão-só deixar um link para o (des)encontro - está em obras por tempo indeterminado, mas podem andar por lá em segurança, sem medo de que algo vos caia em cima (bem... como medida de prevenção, levem um capacete convosco...).

Psicologia de bolso aplicada à blogosfera 


Ignorar um blogue pode ser a melhor maneira de lidar com ele (mesmo que esse blogue seja o nosso).

segunda-feira, junho 30, 2003

E já que estamos (estou) em maré de citações… 


«Aqui nunca ninguém faz nada sem estarem sempre não sei quantos maduros espiando em qualquer parte.»
Clara Pinto Correia, Adeus Princesa, Relógio d' Água, 2001, p.163

Pois é, caro passageiro, de nada lhe serve encolher-se no cantinho do banco a olhar para o reflexo do vidro da janela como se não fosse nada consigo, que eu bem sei que está aí. Só espero que tenha bilhete.

Sobre o abandono e o anonimato 


Diz-se por aí - ok, vou reformular a frase para os mais curiosos: Diz-se por aqui (Aos passageiros mais adeptos de enigmas e, eventualmente, dispostos a adivinhar onde se diz o que a seguir será referido, pede-se o favor de ignorarem o link anterior.) - que o «sentimento de abandono e anonimato paira na blogosfera» e refere-se o Metrobloguitano, «entre outros», como exemplo desse mesmo sentimento.
Resulta daqui que seja sugerida a criação da União dos Blogues Anónimos. Na verdade, a união sugerida é a dos Blogs Anónimos, mas eu gosto de escrever a palavra "blogue"…
Ora, posso afirmar de fonte segura que o Metrobloguitano não se sente abandonado nem anónimo, primeiro, porque tem uma dona que gosta muito dele (enfim, tanto quanto é possível gostar de um Metrobloguitano) e o leva a passear e, segundo, porque, como já se percebeu tem um nome (claro que o "anonimato" não era para ser levado à letra, mas isso não me teria permitido dizer o que acabei de dizer e que se pretendia uma piada).
Assim sendo, não faria sentido que o Metrobloguitano fosse associado a tal união. Para além disso, com toda a consideração que o Quezia lhe merece, faz este blogue suas as palavras de Gonçalo M. Tavares: «Não pertenço a nenhum grupo./ Gosto de ser livre para matar qualquer um.» (O homem ou é tonto ou é mulher, Campo das Letras, 2002, p. 49).

domingo, junho 29, 2003

É bom saber que alguém me dá ouvidos... 


O Posto de Escuta escutou-me.
Nem outra coisa seria de esperar dada a profundidade e a incontestável verdade da frase escutada… Vamos lá ver se consigo manter esta fasquia de fazer inveja a qualquer Lili Caneças.

Interrogação 


Deveria eu traçar aqui uma linha amarela cuja travessia fosse desaconselhável?

sábado, junho 28, 2003

Conficções I 


Há uma miúda que acorda a meio da noite a chorar. Desperta de um pesadelo. Era um pesadelo estranho, como uma espécie de forma oval e vazia que lhe crescia dentro da boca até quase a sufocar. É nesse momento de quase sufoco que acorda. A mãe ouve o choro, acorda, também, e vai ver o que se passa. Pergunta-lhe o que se passou, pergunta-lhe com que coisa estava ela a sonhar. A miúda é incapaz de responder que tinha sonhado com uma espécie de vazio a crescer dentro de si mesma, que, de certo modo, o vazio alastrava em torno de si mesma. Uma forma oval dentro da boca, era assim que o tinha sonhado, mas era como se fosse o vazio a engoli-la e não ela a engolir o vazio. Como fazer com que a mãe o entenda? Assim, acaba por inventar que tinha ouvido um qualquer ruído e tinha sentido medo. A mãe sorri-lhe e ela pensa que afinal tudo vai correr bem, a mãe compreende que ela tenha ouvido um ruído e se tenha assustado, tudo vai correr bem, a mãe sorri, a mãe compreende, é quase como se lhe tivesse contado do vazio, pensa. A mãe sorri e responde-lhe que não foi nada, que ela é parva e que páre de chorar e veja se dorme. A criança aprende a chorar sem lágrimas e sem ruído. É de noite. Ela tem sete ou oito anos e é parva. Terá sempre sete ou oito anos e sempre será parva. Para além disso, apenas sabe que o vazio não é uma coisa que se diga.

Ter queda para 


Faz-me muita confusão que as expressões «ter queda para» e «ter jeito/talento para» possam ser equivalentes. Não consigo aceitar que dizer de alguém que tem queda para o que quer que seja seja algo positivo.
Um exemplo para ilustrar o que acabei de dizer: eu tenho nitidamente queda para blogger (bloguista? blogueira? blogueadora?). Quer isto dizer que tenho jeito para a coisa? Não. Quer tão-só dizer que a partir de agora (se não mesmo de antes) é sempre a descer.

Conversa sozinha da rapariga que deixa passar os blogues 


Ver passar os blogues é uma maneira de passar o tempo como outra qualquer.

sábado, junho 21, 2003

Crise existencial 


Mais cedo ou mais tarde teria de acontecer. No entanto, não aconteceu mais cedo nem mais tarde: aconteceu agora. Este blogue está a atravessar uma crise existencial. Coisas da vida, ao que parece.

O Metrobloguitano ainda mal nasceu e já tem um problema de definição, motivo que o impede de se registar no Blogo, porque sente (leia-se: a sua autora sente) que não encaixa em qualquer das categorias. Ora, isto traz consequências avassaladoras, pois, se este blogue não estiver listado em lado algum, ninguém vai saber da sua existência, logo, não terá leitores e falta de leitores, como se compreende, dá cabo do ego de qualquer blogue (leia-se: do ego do autor do blogue em causa, neste caso, o meu).

Fazer-se anunciar este blogue nas caixas de e-mail de outros blogues talvez fosse uma boa opção. Mas aqui surge um problema: o funcionamento da minha amígdala - vulgo, a minha timidez. E se eles não gostassem de este blogue? E se eu chegasse à conclusão de que, afinal, não gosto dos blogues deles? E se eu começar a escrever coisas que não interessem a quem quer que seja? Não, é melhor deixar-me ficar quietinha.

Talvez ainda vá parar à categoria “Dia-a-dia”, porque a verdade é que este blogue será o que se for vendo – um dia depois do outro, ou dia sim dia não depois do outro… Enfim, depois se verá.

Conversa sozinha da rapariga que deixa passar os metros 


Quinze minutos antes das seis da tarde, costumo estar ali,
em Entrecampos, a deixar passar os metros – passam
pessoas também (já se sabe), olham-me, algumas tropeçam
(encolho as pernas). Há vezes em que anda por ali um
homem mal arranjado, a barba por fazer, uma estranha
maneira de andar (uma dança só dele, imagino), fala sozinho,
não sei se vive na rua ou se é apenas louco (ainda menos
sei se a loucura pode ser apenas), revolve os caixotes do
lixo com as mãos sujas, à procura de papéis feitos pedaços
e atirados aos carris quando o comboio se aproxima. Há
nele qualquer coisa que assusta, mas fico a ver, sigo-lhe
os gestos e o arrepio é o mesmo de quando sigo os versos
desconhecidos do poema (assustam-me os poetas, também).
Quinze minutos antes das seis da tarde, costumo estar ali,
a deixar passar os metros e a observar esse homem (quando
ele por lá passa) - e há pessoas que me olham, algumas
tropeçam (encolho as pernas). Se me trouxeres um ramo
de malmequeres e disseres a senha certa, saberei quem és
e ao que vens - espero-te para juntos conhecermos o
som das pétalas pequenas e brancas esmagadas nos carris.

Rute Mota

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